quinta-feira, 10 de julho de 2014

TREINO INDOOR OU NA RUA?

  Texto do Map Of Sports, postado dia 7 de julho de 2014:

Treino indoor ou na rua?

   O inverno chegou, e a preguiça também, mas as competições não param por causa do frio. Uma opção para evitar as baixas temperaturas é o treino indoor, como esteira ou bicicleta estacionária por exemplo. É certo que treinar na esteira ou na bicicleta ergométrica é melhor que ficar embaixo do cobertor, mas nesta hora surgem dúvidas quanto ao treino indoor, se realmente é eficiente ou se é pior ou melhor que o treino na rua.
     Existem vantagens e desvantagens em relação ao treino indoor, ele pode ser até mais eficiente para determinadas capacidades físicas, mas também pode não desenvolver outras. Particularmente prefiro treinar na rua mesmo no frio, apenas por uma questão motivacional, me sinto melhor treinando em ambientes abertos. Por outro lado existem atletas amadores e até profissionais que adotam o treinamento indoor ao longo de todo o ano, não apenas no inverno.
    De fato o treinamento indoor é mais conveniente em relação ao tempo gasto na atividade. No ciclismo por exemplo, você não precisa se deslocar ao local específico de treino, e também o tempo de treinamento pode ser reduzido em cerca de 30% do treino que seria realizado na rua, pois está o tempo todo pedalando, podendo deixar o trabalho mais intenso, não perdendo tempo sem pedalar nas descidas e curvas como na rua. Este fato facilita muito a logística dos atletas, principalmente quando moram em grandes centros urbanos como São Paulo.
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     Cada vez mais os equipamentos estão se modernizando, conseguindo reproduzir as mesmas condições de um treinamento em ambiente aberto. Hoje existem esteiras que podem reproduzir treinos em subida e até descida, mas no ciclismo é que existem mais inovações que podem dar mais qualidade ao treino na bicicleta estacionária que pedalar ao ar livre. Com medidores de potência que podem ser tanto instalados na bicicleta convencional e utilizada em um rolo de treinamento, como em bicicletas ergométricas, é possível controlar o treinamento de forma muito precisa. É possível controlar de forma mais eficiente as variáveis do treino como a intensidade do esforço, cadência, seleção de marchas, frequência cardíaca e potência.

    Na corrida acho que as principais desvantagens de treinar em esteira são o controle do ritmo e um “despreparo sensorial”. Algumas pessoas que se acostumam a correr em esteira têm dificuldade em encontrar um ritmo de corrida quando precisam correr na rua, pois a esteira dá o ritmo e obrigatoriamente o mantém. E este “despreparo sensorial” é referente aos sensores motores, que evitam uma torção se a pessoa pisar em algum buraco por exemplo. Mas para compensar este despreparo é possível realizar exercícios de fortalecimento e equilíbrio, como saltos laterais ou discos de equilíbrio.

   No ciclismo uma das desvantagens é não conseguir simular exatamente sua posição nas subidas, uma forma de minimizar este problema é elevar a roda da frente. Uma forma bem interessante de se treinar é utilizar o rolo de treinamento com uma meia bola inflável, como Bozu, embaixo da roda da frente, assim você eleva a posição além de treinar a pedalada “macia”, pois se não estiver correta você ficará “pulando” em cima da bicicleta. Mas a principal desvantagem de não treinar na rua ou estrada é que você não pratica as habilidades de equilíbrio e estabilidade, não pratica as habilidades necessárias para descer bem, fazer curvas e andar em grupo por exemplo.

     O Treinamento indoor pode ser sim muito útil no dia a dia dos atletas, é possível reproduzir treinos com a mesma eficiência da rua. Principalmente para o atleta amador que dispõe de pouco tempo, é uma ótima opção, mas apesar do frio o ideal é mesclar as duas formas de treinamento, em ambientes fechado e aberto. Mesmo que durante a semana só consiga treinar em esteira ou rolo tente nos finais de semana treinar na rua. Se possível mude seu horário de treino, treine mais no meio do dia, para que consiga encarar melhor o frio.


Fernando Couto

segunda-feira, 26 de maio de 2014

GRANFONDO NEW YORK



     Neste mês de Maio aconteceu o Granfondo New York, uma prova ciclística tradicional nos Estados Unidos que reúne ciclistas de todo o mundo. Este ano participaram cerca de 5 mil atletas, entre eles 3  de meus amigos e alunos, o Márcio Kumada, o Júlio Ramos, e o Fernando Freire. Eles fazem parte do Velo Team, que além de pedalam juntos, levam o companheirismo e a amizade como inspiração em seus desafios, fortalecendo estes valores também fora da bike. Veja o relato da prova do Márcio Kumada, pessoa que admiro muito pela disciplinada e dedicação.

 
Granfondo de New York


     Dizem que histórias são para serem contadas, e sim entendo que esta mereça ser uma delas... Não pela competição ou pelo glamour de uma prova internacional (minha primeira), mas sim por Dedicação, Disciplina, Superação e principalmente Amizade.

     Esta história na verdade começa a três anos atrás quando um senhor gordinho de quase 40 anos recebe um diagnóstico não muito bom do checkup e decide mudar seu estilo de vida (mas essa é uma história um pouco mais longa e fica para talvez um livro...), voltando aos últimos seis ou sete meses quando decidimos, eu e Júlio Ramos fazer esta aventura de 160km em outro país e com 2.500metros de ganho de elevação. Com o desafio definido iniciamos todo processo de treinamento, Mestre Couto definiu suas planilhas duras, mas de fato eficientes, foram muitos e muitos Kms de estrada, muitas e muitas subidas, e subir 5x o Pico do Jaraguá já nem parecia tão complicado assim no final. rsrs

     Poucas semanas antes se junta a dupla, Fernando Freire, que decide fazer o meio Granfondo, por bem estava também muito bem condicionado para enfrentar os 80Kms.

“Marinheiros de primeira viagem” chegamos uma semana antes e como turistas fomos as compras e a conhecer os pontos turísticos de NYC (este fato será importante no final da história).


     Um dia antes. Montamos nossas bikes e fizemos os últimos ajustes com um treino solto no Central Park, muito bacana esta experiência e importante para estar alinhados para prova.

     Enfim chega o grande dia, acordamos as 4 da manha para saída do hotel as 5, poucos minutos antes de sair do hotel um gringo que também ia para prova se aproxima e me informa que não poderíamos ir com nossos uniformes do Véloteam, que havíamos preparado justamente com a bandeira de nosso país, ficamos tristes mas corremos e trocamos rapidamente para sair com o uniforme do evento. A saída ainda no escuro com um frio de 8oC, estávamos a 17 Kms da largada e fomos pedalando, durante o trajeto encontrando vários ciclistas também a caminho da largada.
 

     Imaginamos poder largar juntos, porém houve a separação por grupos de 500 em 500 atletas, desta forma o Fernando ficou separado por ter realizado a inscrição muito depois da nossa. Eram muitas pessoas, segundo o locutor 5.000!



     O primeiro desafio foi suportar o frio que segundo o aplicativo indicava sensação térmica de 0oC, tentei ficar encolhido, mas ao final comecei a correr no lugar como louco, para não entrar em colapso, pois tremia como nunca tremi antes. Contudo a paisagem era espetacular, pois estávamos na George Washington Bridge com céu azul, música muito alta para energizar, e pouco antes da largada uma cantora menciona “quem faz a corrida são os corredores” e inicia o Hino dos Estados Unidos e apesar de não ser o nosso, me emocionou muito.

     “Five, Four, Three, Two, One, GO!” me lembro como se fosse agora, muita energia, emoção ansiedade, milhares de ciclistas, tudo junto, foi sensacional.

 

     Saímos bem controlados, até mesmo porque não havia como sair forte com 1.500 bikes a sua frente, e mantivemos uma boa média nos primeiros Kms, passamos pelo primeiro posto de suporte e decidimos não parar pois seriam seis e a estratégia de parar em três parecia ser boa. Chegamos ao segundo posto em Haverstraw com aproximadamente 50Kms percorridos, estávamos super bem, a surpresa ou não, foi ver um lugar enorme com uma tenda com muita, muita comida, sanduíches, bolos (chocolate e baunilha), suplementos (géis e barras de proteína), bolachas, salgados, frutas, água, isotônicos, coca cola, muitos banheiros químicos, suportes para as bikes, realmente a estrutura foi um ponto muito forte do evento, por exemplo a cada cruzamento haviam policiais para fechar o trânsito. Nos alimentamos, confesso que até me controlei para não ficar comendo mais, e partimos (parada de 10 minutos).




     Logo na saída tivemos a grata surpresa de encontrar o Fernando, e a partir deste ponto passamos a pedalar juntos os três Véloteans. Esta segunda perna da prova previa já encontrar a temida Bear Montain (Montanha do Urso), chegamos ao pé da montanha e como em outras subidas avisei aos meus Amigos que iria subir no meu ritmo e os encontraria no topo da montanha que seria nossa segunda parada. Iniciei a subida em meu ritmo e percebi que passava com certa facilidade vários blocos de ciclista e comecei a contar e parecia incrível, mas foram em torno de duzentas ultrapassagens. Nesta hora lembrei do treinador que me falou: “me odeie no treino para me amar na prova”. Rsrs





     Cheguei ao topo com 25 minutos de subida, excelente para minha expectativa. Aguardei alguns poucos minutos e pude fotografar a chegada dos meus Amigos que seria o final da Prova para o Fernando.





     Parada rápida de 10 minutos, mais uns sanduíches e saímos para terceira perna, que previa duas Colinas. Descemos muito bem, mas o frio estava forte ainda e a estratégia de sair com a segunda pele completa e manguito se mostrou muito acertada, pois subi o manguito na descida e fiquei bem confortável.

 
     Com alguns trechos planos, encontramos vários pelotões, e com um bom ritmo me via puxando o pelotão a 40km por hora, é uma alegria indescritível. O curioso é que por ser uma prova muito longa, também haviam momentos em que estávamos somente nós dois. Pouco depois da primeira Colina, o Júlio me avisa que teve câimbra, fato inédito, pois em vários treinos e provas nunca havia acontecido, e me pede para ir adiante, mas a nossa estratégia era realizar a prova juntos e iniciei a motivação para que ele seguisse forte para concluirmos o desafio.
     Chegamos a terceira parada nos alongamos, mais um sanduíche, bolo e coca cola (rsrs). Saímos com 10 minutos de parada para a última perna, cerca de 40Kms. Logo na saída veio a pior parte da prova, comecei a sentir fortes dores no ligamento atrás do joelho direito. Não entedia a razão pois havia me preparado muito bem e jamais havia sentido algo parecido, semelhante ao Júlio, e pensando um pouco chegamos a conclusão de que por termos andado muito durante a semana (turistas), como relatei no início do texto. Esta é uma das lições aprendidas, realizar primeiro a prova e depois o passeio.
     Com a dor dos ligamentos não conseguia mais pedalar sentado nas subidas e nas retas também se tornou um sofrimento. Percebi que pedalando em pé sentia menos dores e passei a pedalar assim, porém o tendão de Aquiles passou a sentir o peso dos Kms em pé.
     Neste instante comecei a pensar em tudo que fiz para chegar até ali e não iria desistir, o Júlio neste instante foi fundamental e começou também a me motivar, falando que faltava muito pouco.



     A cada subida a dor aumentava e tenho que confessar que houveram algumas lágrimas de dor e emoção. Pedalamos mesmo assim forte, mantivemos a média nas retas a 35 - 40 kms/h, até chegar novamente ao parque onde seria a chegada da prova, com suas ultimas subidas.
     A chegada foi sensacional, pois o locutor anunciou nossos nomes no sistema de som e ouvir “Marcio Kumada from Brazil” foi espetacular!



     Ainda de quebra havia uma macarronada e espreguiçadeiras para todos os ciclistas que fechou com chave de ouro.



     Agradeço muito em primeiro lugar a Deus por me permitir passar por momentos inesquecíveis, a minha esposa Eloá pela compreensão por tantas horas de treino, meus Treinadores Fernando Couto, Ivan Sales e meus Amigos do Véloteam por toda companhia durante os treinos.